16 de julho de 2013

das Kind














No dia em que eu soube que estava grávida, sabia que era um menino; quando perguntada, dizia isso aos quatro ventos. Até que uma médica, talvez frustrada por não ter seguido carreira como futuróloga, disse, no primeiro (!) ultrassom, que havia grandes chances de o meu bebê ser uma menina.

Ah, sim, 50% de grandes chances, né, darling?

Não tinha como ela saber, mesmo que tivesse enxergado bionicamente um órgão primitivo mais para triângulo com ponta para baixo do que triângulo com ponta para cima. Pior: ela nem me perguntou se eu queria saber o que ela achava.

Enfim, sei que saí com cara de paisagem e, até que a grande medicina confirmasse, não disse mais que eu achava que era um menino. Não por quebrar expectativas minhas (eu não tinha nenhuma em relação a isso, tinha apenas a sensação de que era um menino), mas por medo de alguma parte subconsciente do meu ser rejeitar a possível menina. Ai, coisas que passam na cabeça de uma mãe.

Não era menina nada, mas a grande medicina demorou para nos contar. E nesta espera, barrigão andando para lá e para cá, eu não aguentava mais as pessoas querendo saber tanto qual era o sexo do meu filho. Sim, “a importância dada ao sexo do bebê” foi uma das várias filosofações* que tiraram o meu sono durante a gravidez. Porque eu não me importava, não fazia diferença. Vou amar mais ou menos o bebê por ter recebido um X ou um Y do pai dele? Não.

Mas eu me perguntava: Por que as pessoas dão tanta importância para isso? Por que elas querem saber? Se for menino, já vão criar um milhão de expectativas em cima do meu bebê para que ele seja um futuro-macho-provedor-engenheiro-que-gosta-de-futebol-e-não-chora? Ou, se for menina, uma futura-moça-delicada-com-as-unhas-sempre-feitas-que-trabalha-para-ajudar-em-casa? Só pensava nesses estereótipos ridículos. Só pensava na repressão que a sociedade já queria depositar sobre o meu filho (ou filha, de acordo com a médica não futuróloga).

Só me importava que meu filho fosse um ser humano saudável, feliz e LIVRE para ser quem ele quisesse.

Tá, tudo isso para falar deste filme: Tomboy, que eu vi quando estava grávida e que alimentou a minha rebeldia questionadora em relação à importância dada ao sexo. Este filme me fez refletir ainda mais sobre sexualidade, gênero, infância e criação.

É um filme lindo, dessas pérolas francesas delicadas, engraçadas e tocantes.



Tomboy é um longa-metragem de 2011, dirigido por Céline Sciamma; o roteiro também é dela. No papel principal, Zoé Héran./ Acima, foto de uma cena do filme./ *Não, "filosofação(ões)" não consta no Vocabulário Oficial da Língua Portuguesa./ Aqui, trailer tirado do YouTube.