18 de janeiro de 2014

presente

Aí você é a pessoa quase mais antissocial do mundo.

De repente, está almoçando no restaurante chinês-japonês da cidade, concentrada no seu tofu, quando olha para o lado e seu filho está tomando suco no copo da mocinha bonita da mesa vizinha. O namorado sorri, sem ciúmes daquele conquistador charmoso de um ano e poucos meses. Ainda na fila do caixa, ele quer ir para o colo de mais uns três transeuntes.

Nem que você seja a mais Lisbeth Salander da face da Terra, o anonimato não vai mais funcionar. Afinal, está sempre acompanhada-ofuscada de um bebê fofinho e sorridente que beija e abraça todo mundo na festa em que você praticamente conhece o aniversariante.

Meus músculos faciais andam doloridos de tanto rir nessas e dessas situações. Risadas espontâneas e comovidas diante de tanto carisma natural – acredite, é impossível não se derreter. E risadas da vida, que em face do meu mau humor e antipatia, me retribui Equilíbrio.

2 de janeiro de 2014

dueto

Bem-te-vi cantou ao pé da minha janela
Tão alto que me fez sobressaltar da cama.

Dezembro passou, todos os meses passaram.
Num ritmo de cidadezinha qualquer
O ano se foi em reflexão.

A família próxima segregada
O cinema que virou academia
Celulares na ceia de Natal.
Questiono sobre o futuro do meu filho
Desta pretensiosa Era
Pós-moderna, pós-edípica.

Desorientados
Rumamos
Sem a emoção apocalíptica
Mas com esta velocidade tediosa
Que nos deixa morosos.

A linda flor que floresce uma vez ao ano
Quase passou despercebida.

Quase passou despercebida
A resposta ao canto solitário.