– E aí, o que você vai fazer no seu aniversário? – meu irmão perguntou.
– Terapia – respondi.
Alguns acharam graça na minha resposta (aqueles que conseguem
achar graça em piada de virginiano porque, cá entre nós, é um humor muito
esquisito). O que poucos sabiam era que eu estava sendo verdadeira, para variar.
Porque uma pessoa
que se propõe a viver a vida intensamente – como eu costumava pregar,
orgulhosa, na ignorância dos meus vinte e poucos – atrai experiências intensas. De diversas naturezas. E isso pode ser emocionante, mas também doloroso. Ou isso pode ser emocionante e também doloroso.
E porque, para não ficar só apurando meu mais recente comportamento
obsessivo de assumir culpas – neste caso, por ter atraído a intensidade
para a minha vida –, eu tenho que admitir minha
essência almodovariana. É isso. Sou latina mesmo, no sentido batido,
estereotipado, você pode dizer. Porque eu sofro, sou passional, solto o verbo,
choro, fico abatida, levanto, sacudo e vamos festejar. (Claro, é uma faceta. Uma boa faceta do sangue hispano-italiano que corre nas minhas veias.)
Pensando só nesses dois
aspectos, dá para deduzir o porquê da minha resposta.
Daí que eu, há alguns anos, venho dizendo que choraria muito
quando me balzaquiasse.
Sei que o dia está apenas começando, mas depois de um
despertar com flores e declarações de amor... ah, eu até desisti
de pensar “what the hell eu fiz em três décadas?” e percebi que o peso pode ser
mais leve.
É uma questão de ponto de vista.
Admito que viver no vale jupteriano sob a foice de Saturno não é um período fácil. (Se você passou pelos 28-30 sem se fazer um
único questionamento existencial, devo te dar os parabéns pelo autocontrole; ou
os pêsames pela falta de interesse por si mesmo ou por estar correndo atrás do
próprio rabo e não ter se dado conta de uma oportunidade tão incrível de se
transmutar, de se conhecer um pouquinho, de questionar suas fraquezas, de
tentar trilhar um novo caminho.)
Ma-a-as, estamos aí.
Um novo ano, um novo lugar, uma nova vida.
Como diria minha grande amiga Cris, a roda tem que girar.
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